Avalovara pdf download






















This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these cookies, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are as essential for the working of basic functionalities of the website.

We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may have an effect on your browsing experience. Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. A very odd, challenging, interesting novel from Brazil. Visits the Marciana Library to study the incunabula and codices.

RJ rated it it was amazing Jul 17, Jul 24, Geoffrey rated it liked it. It is a less avalovarra way of telling us how to read a book properly than the feeling we get whenever we read something a second time and find that it is not quite what we had read before. Symbolic of the novel and its view of life is an actual part of its text: Goodreads helps you keep track of books you want to read.

He graduated from the University of Recife in with a degree in economics and finance, and held a position as bank clerk from until avalvoara Gana dinero con nosotros. Three Trapped Tigers G. Dec 07, H. This is where creative reading, invention, takes hold, a far cry from certain sterile stylistic studies that remind one of ornithologists who study ornithology and not birds. It is from her that we learn about Yolyps. Jul 24, Geoffrey rated it liked it. Welp, I read this. By using this geometrical structure the author has predetermined the order in which the narratives including that of the square would appear and how the stories should be read with each turn on the spiral as it touches each letter of the Sator square.

That being said, this lifro gave me extremely mixed feelings — a 3. Avalovara — Osman Lins Cia. Each writer had more or less efficient means avalovaga navigating around this, and his was a rather annoying one: Jan 16, F Craig rated it it was amazing.

English Choose a language for shopping. If you are a seller for this product, would you like to suggest updates through seller support? Web icon An illustration of a computer application window Wayback Machine Texts icon An illustration of an open book. Books Video icon An illustration of two cells of a film strip. Video Audio icon An illustration of an audio speaker. Audio Software icon An illustration of a 3. Mircea Eliade, O sagrado e o profano Chegar ao mundo tomar a palavra, transfigurar a experincia em um universo do discurso.

George Gusdorf, A palavra Axe primordial, le linga montre, en se joignant au yoni, que lAbsolu se dveloppe en pluralit, mais se rsout en unicit.

L ensemble lingayoni prcise Iantagonisme des principes mle et femelle - et il le dtruit dans une non-dualit tiomplante. O nmero, aqui, no mais simples esqueleto exterior, mas smbolo do ordo csmico. Curtius, sobre a Divina comdia Literatura ,medieval e Idade Mdia latina. O limite est no fato de a espiral ser contida num quadrado, que por sua vez se repartee em quadrados menores, cada um correspondendo a uma letra. O traado da espiral vai tocando sucessivamente as letras, e cada uma destas corresponde a uma linha da narrativa, voltando periodicamente em segmentos cada vez maiores.

As linhas so oito, e o seu desdobramento se traduz na histria de um homem e das mulheres que amou: uma na Europa, uma em Recife e sobretudo, uma em So Paulo, que de certo modo recebe a experincia amorosa vivida como nas anteriores. As duas primeiras seriam passado, mas funcionando como presente; a ltima um presente que se forma a cada instante do passado.

Toda a narrativa converge para a plenitude amorosa, numa espcie de gigantesca cmara lenta, que concentrasse o tempo no espao limitado e no limitado instante em que a plenitude buscada.

O que desde logo prende em Avalovara a poderosa coexistncia da deliberao e da fantasia, do calculado e do imprevisto, tanto no plano quanto na execuo de cada parte. Falando do relgio de Julius Heckethorn uma das linhas da narrativa , o Autor diz que obedecia a um esquema rigoroso. E sobre este rigor assenta a idia de uma ordem do mundo.

Mas como introduzir, ento, na obra, o princpio de imprevisto e aleatrio, inerente vida?. A execuo do livro a resposta, fascinante para o leitor, medida que este vai experimentando a preciso geomtrica do arcabouo, a mincia implacvel da descrio e a poesia livre que rompe a cada instante.

Nos vinte e cinco quadrados que formam o quadrado grande, onde se contm a espiral, as palavras se sobrepem horizontalmente, mas tambm se estendem em colunas verticais, pois a frase pode ser lida indiferentemente da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, de cima para baixo, de baixo para cima, em diversos rumos.

Assim, na narrativa, o amor visto do homem para a mulher, da mulher para o homem, do presente para o passado, do passado para o presente, daqui para ali, dali para aqui, numa reversibilidade vertiginosa que traz baila a evocao da herma de Jano e chega a uma mulher que tambm homem, para um homem que poderia eventualmente ser tambm mulher. As reversibilidades prosseguem ainda noutro plano, quando o Narrador se transforma periodicamente em Autor e a narrativa quebra a imagem do real, para aprensent-lo como fantasia composta.

Neste romance, uma das linhas precisamente a da conscincia crtica entrando a cada instante pela srie ficcional, denunciando o seu carter fictcio de empresa deliberada, igualmente reversvel entre a representao do real e o carter ilusionista da representao.

Da um livro que no tem medo de se apresentar como livro, como maquinismo montado, como no-realidade mas do qual jorram o fascnio de uma vida que palpita, o traado do mundo exterior e a surda potncia das emoes. Nada mais significativo desta mistificao demistificadora do que o fato de um personagem no ter nome. Trata-se de terceira mulher, a mais importante, representada no entanto por um signo meramente visual:. Ela espantosamente carnal e viva para o leitor; mas um ente mental do escritor, uma pea do jogo palindrmico, representada simbolicamente pelo crculo fechado onde tudo comea e acaba, com seu alvo fincado no meio.

As pontas da espiral, desgarradas no infinito, unem-se aqui para a consecuo de uma plenitude que toda a busca do livro. Tratado da narrativa? Viso do mundo? No universo sem gneros literrios da literatura contempornea, o livro de Osman Lins se situa numa ambiguidade ilimitada. A comear pela linguagem, que varia tambm com o movimento da espiral, indo da simplicidade das expresses at a parfase do Cntico dos Cnticos, do tom de arrolamento metdico aos vos largos da poesia.

Para se encontrar nessa ambiguidade, o leitor deveria munir-se de um sentimento duplo, que poderia ser chamado de sentimento do todo, ou da espiral, e sentimento da parte, ou dos quadrados. H uma viso do todo, que se desvenda lentamente, custando a ganhar forma em nosso esprito. No faz mal, porque o livro parece feito para ser lido tambm nas suas partes.

O sentimento da espiral leva a buscar a concatenao e o contraponto dos fios, ao longo do tempo. Mas o sentimento dos quadrados leva a tomar cada parte como um todo, bastante a si mesma e fora do tempo, capaz de produzir um impacto completo de leitura. Da o carter potico e geomtrico do livro, que uno e mltiplo, que carreia elementos narrativos do fundo dos sculos, mas tambm se passa nalguns instantes, num quarto fechado, sobre um tapete que se perde a cada momento no rumo do fantstico.

Avalovara representa na literatura brasileira atual um momento de decisiva modernidade, porque o Autor como diz a certa altura exerce uma vigilncia constante sobre o seu romance, integrando-o num rigor s outorgado, via de regra, a algumas formas poticas. No espao ainda obscuro das ala, nesta espcie de limbo ou de hora noturna formada pelas cortinas grossas, vejo apenas o halo do rosto que as rbitas ardentes parecem iluminar ou talvez os meus olhos: amo-a e os reflexos da cabeleira forte, opulenta, ouro e ao.

Um relgio na sala e o rumor dos veculos. Vem do Tempo ou dos mvies o vago odor empoeirado que flutua? Ela junto porta, calada. Os aerlitos, apagados em sua peregrinao, brilham ao trespassarem o ar da Terra. Assim, aos poucos, perdemos, ela e eu, a opacidade.

Emerge da sombra a sua fronte clara, estreita e sombria. Surge onde, realmente vindos, como todos e tudo, do princpio das curvas -, esses dois personagens ainda larvares e contudo j trazendo, no se sabe se na voz, se no silncio ou nos rostos apenas adivinhados, o sinal do que so e do que lhes. A porta junto qual se contemplam ou avaliam, face a face, rodeados de sons, cheiro de p e obscuridade, limiar de qu?

Ingressam ambos na sala e talvez, ao mesmo tempo, no espao mais amplo, conquanto igualmente limitado, do texto que os desvenda e cria. As cortinas ocultam duas janelas amplas, com persianas de madeira e vidraas. Permanece fechada a janela ante a qual ficam as descoradas poltronas de damasco, a mesinha de centro e o sofa com forro de veludo ouro.

A outra, aberta, ilumina a longa mesa posta: sobre pequenas toalhas ovais vermelhas, azuis e verdes -, entre a loua e os talheres, dois castiais, uma garrafa de vinho e o vaso com dlias amarelas. Palavra e corpo, o rosto fogo e seda junto ao meu:.

Afago seus cabelos, fartos, fortes, duas cabeleiras confundidas. Que liga esta hora viso da Cidade descendo sobre o vale com um pssaro? Uma exploso longnqua faz tilintarem os pingentes faltam alguns nos lustres de cristal. Tambm ouo o mecanismo, lento, cor de mel e ao, do alegre vestido, ala-se um perfume lancinante.

Os motivos geomtricos, os animais e as ramagens dos dois imensos tapetes diluem-se num rosa meio encardido. Retirado o pndulo, poderiam esconder-se uma criana e seu co na caixa de madeira do relgio.

Crer que os dois personagens e a sala de um fausto declinante onde se encontram tenham para o narrador mais nitidez que o texto vagarosamente elaborado e onde cada palavra se revela aos poucos, passo a passo com o mundo nelas refletido seria enganoso. No haveria cidades sonhadas se no construssem cidades verdadeira.

Elas do consistncia, na imaginao humana, s que s existem no nome e no desenho. Mas s cidades vistas nos mapas inventados, ligadas a um espao irreal, com limites fictcios e uma topografia ilusria, faltam paredes e ar.

Elas no tm a consistncia da prancheta, do transferidor ou do nanquim com que trabalha o cartgrafo: nascem com o desenho e assumem realidade sobre a folha em branco. Aonde chegaria o inadvertido viajante que ignorasse este princpio? Elaborar um mapa de cidades ou de continentes imaginrios, com seu relevo e contorno, assemelha-se portanto a uma viagem no uniforme. Pouco sabe do invento o inventor, antes de o desvendar com o seu trabalho.

Assim, na construo aqui iniciada. S um elemento, por enquanto, claro e definitivo: rege-a uma espiral, seu ponto de partida, sua matriz, seu ncleo. Desenhai, com auxlio de um compasso, se de vossa ndole ser cuidadoso, ou a mo livre, se tendeis para as solues mais fceis, uma espiral.

Atentai, com cuidado, para as extremidades da linha, a interior e a exterior. Vereis, ao primeiro olhar, que a espiral no nos transmite uma impresso esttica: parece-nos, antes, vir de longe, de sempre, tendendo para os centros, seu ponto de chegada, seu agora; ou ampliar-se, desenvolver-se em direo a espaos cada vez mais vastos, at que a nossa mente no mais alcance.

A verdade que, se a seccionamos nas extremidades, arbitrariamente o fazemos; fazendo-o, guardamo-nos da loucura. Nem a eternidade bastaria para chegarmos ao trmino da espiral ou sequer ao seu princpio. A espiral no tem comeo nem fim. A um olhar mais cndido, o que dissemos merece reparos. A espiral seria infinda em seu exterior; interiormente, porm, h os centros ontem ela termina ou se inicia.

Tal pensamento demanda retificao. Somos ns que impomos limite, em ambas as extremidades, para a espiral. Idealmente, ela comea no Sempre e no Nunca o seu termo. Com o que chegamos a uma concluso ainda menos trivial que as anteriores, a saber: embora a vejamos traada, no papel, em direes opostas, suas extremidades se realmente existem em algum ponto misterioso, inacessvel nossa compreenso empedrada, havero de encontrar-se, exatamente como o crculo, representao bem menos equvoca e perturbadora.

Como, ento, fazer repousar a arquitetura de uma narrativa, objeto limitado e propenso ao concreto, sobre uma entidade ilimitada e que nossos sentidos, hostis ao abstrato, repudiam? Ajoelhado no tapete, descalo os sapatos de , descalo-os e beijo os ps recurvos, pequenos, cavados nas plantas. As unhas esmaltadas luzem sob as meias transparentes. Tomo nas mos os seus ps, os dois ela, no sof, meio curvada, afagando-me a cabea , e descanso o rosto sobre eles.

Nascem e abrem-se, nos ps, dentro dos ps, entre os ossos finos, violetas invisveis: sinto-as. A Cidade navega pelos ares, em silncio, pousa no vale. Face a face, eu e a Cidade, mudos. A quem pertencem, realmente, estes ps sob meu rosto e dentro dos quais ouo vozes?

Ela repete meu nome, docemente: Abel! Dissipa-se o cheiro de p com sua presena ou com o ar morno de tarde entrando pela janela. Repetem as nossas lnguas o jogo de avanos e recuos, prprio dos amantes. Os incisivos vez por outra se tocam e ento nossos msculos retraem-se.

Sugo, sucessivamente, sua lngua e seus beios de corte ntido. Ela faz o mesmo. Nossas lnguas incham e diminuem, avanam, expandem-se, tendem a ocupar inteiramente a boca do outro.

Ave de forma imprecisa ou flmula negra, cintilando na linha do horizonte e aproximando-se, ampliando-se ondulante no cu puro pssaro? O odor do ar que aspiro, tpido, das narinas de , alcana intensidade quase insuportvel. Maior, ainda assim, o prazer de sorv-lo. Respiro sobre um vaso de vinho? Uvas esmagadas, vides recm-podadas, folhas secas de parra queimando sob a chuva, lenis de linho ao sol, entre latadas altas e sarmentos, eis, dentre muitas outras, algumas das imagens evocadas a esse hlito que ningum mais possui e que ela prpria, decerto, s em raros momentos exala com igual intensidade.

A lngua quente e agitada, feita para degustar os sabores da Terra, inverte esta funo e faz-se alimento. Sabe a licor. De qu? Bebo o suco sempre renovado desse fruto vivo. Embebo-me do rumoroso ser abrao e sinto, no meu peito, como se a mim pertencessem, crescerem seus peitos.

No tero apenas o arredondado, mas tambm o colorido das rosceas duas grandes rosceas sobre rosceas menores e neles fulgem, estou certo, palavras pouco usuais. H que socorrer-se de outra, fechada e evocadora, se possvel, da janelas, das salas e das folhas de papel, espao com limites preciosos, nos quais transita o mundo exterior ou dos quais espreitamos.

A escolha recai sobre o quadrado: ele ser o recinto, o mbito do romance, de que a espiral fora motriz. Concebei, pois uma espiral que vem de distncias impossveis, convergindo para um determinado lugar ou para um momento determinado. Sobre ela, delimitando-a em parte, assentai um quadrado. Sua exisncia para alm dessa rea no ser tomada em considerao: a, somente a, que reger com o seu vertiginoso giro sucesso dos temas constants do romances.

Pois o quadrado ser dividido em outros tantos, idealmente iguais entre si. E a passagem na espiral, sucessivamente, sobre cada um determinar o retorno cclico dos temas neles esparsos, do mesmo modo que a entrada da Terra nos signos zodiacais pode gerar, Segundo alguns, mudanas na influncia dos astros sobre as criaturas.

Coincidiro, aduzamos, o centro do quadrado 4. Tais os fundamentos da presente obra. Outros pormenores, a seu tempo, sero acrescentados. Por ora, temos de sustar essa exposio, forado pela rigidez do plano h mais de dois mil anos estabelecido. Vindo a nossa espiral do exterior, so cada vez menores os seus giros. Inversamente, por uma necessidade de simetria e de equilbrio na concepo, ampliar sempre o contrutor da obra, em progresso aritmtica, o espao concedido, cada vez aos vrios temas do livro, controlados no ritmo de seus reaparecimentos e na extenso dos textos a eles referentes.

A caprichosa ampliao desses temas constitui uma espcie de rplica, s avessas, daquela espiral que se fecha. Sero eles, ao seu modo, espirais que se abrem ou cones que se alargam. Exercer assim o construtor uma vigilncia constante sobre o seu romance, integrando-o num rigor s outorgado, via de regra, a algumas formas poticas.

Abraa-me este homem para mim se dirige h tanto tempo que no mais se recorda desde quando , uma serra mecnica corta tbuas de pinho, vai e vem no relgio e o pndulo em forma de sistro, um vento morno move as dlias sobre a mesa, sobe da avenida um rumor confuso de veculos. Articulado na ausncia e por mim mesma descrito, de maneira catica, incompleta e at certo ponto enigmtica, nos dias febris e de nmero impreciso em que minha boca parece saber mais do que sei, o nosso encontro alcana agora a plenitude e o final.

Vestido de vero, cabelos soltos, sandlias enfeitadas com falsas gemas roxas. No sei como, nossas mos se encontram, estamos de mos dadas, ela aperta-me os dedos e mostra o rastro no cu do primeiro foguete Nike-Tomahawk. So exatamente dez horas da manh. Rpido encontro sob as rvores, ao cair da noite, junto esttua de Dante Alighieri. Contornamos lentamente os fundos da Biblioteca Municipal, protegidos pelas ramagens que diluem e fragmentam a luz das lmpadas.

Nossos ps tornam-se pesados, tardos e ns nos abraamos. Sua boca, sempre um pouco aberta, abre-se mais e ela morde-me a lngua. Motores e buzinas, vozes confusas, passos, silvos estridentes dos guardas de trnsito.

Na sua garganta, nasce e repete-se um apelo inarticulado, nasce e repete-se a palavra, talvez, que devo encontrar? O enterro atravessa a cidade de So Paulo ao sol do meio-dia, furando com dificuldade os pontos de congestionamento. Vai para o tmulo o corpo negro e gasto de Natividade.

No nos movemos e mesmo imveis range a cama, dormem os homens do parque nas barracas na bilheteria, nos bancos do carrossel, as ondas morrem na areia noturna e o rudo que fazem mal se ouve pela janela cerrada.

O calamento lavado cheira a peixe, o bagao de laranjas. A cmara ultravioleta motada por Edwind D. Aldrin no exterior da cpsula especial e voltada para o campos de estrelas Srio e Veoloum busca informaes sobre a idade do Universo.

Nmeros e nomes, nesses campos, florescem. Percorremos lentamente as longas ruas desertas de Ubatuba. Paredes encardidas das casas, com platibandas e decoraes de massa, jardins com prgulas meio destrudas, caladas gastas mato nascendo nas telhas e beirais. Os eventos so enigmticos e quase nunca se apresentam ntegros. Um texto que cem bocas pronunciam, cada boca profere trs palavras, quarto, uma, cada boca ignora as palavras que emitem as outras bocas, ignoram inclusive onde as outras bocas falam, quantas so e se existem.

Pode uma boca falar e no sabe o qu. Ns sob o lenol na escurido do quarto, estendidos, de mos dadas, rgidos e mudos, nus. A cegueira dissipando-se e uma planta medrando no centro do meu corpo, acre raiz, caule vermelho, folhas speras, rugosas, planta de chamas, urtiga. No julgar que a existncia humana, enquanto inconclusa, seja um poliedro incompleto do qual a morte o ultimo lado, no, o poliedro move-se e suas faces e arestas proliferam, crescem conosco, mais ou menos brilhantes, assim com todos e mais ainda comigo, de vida dplice, duas vezes nascida, com duas infncias, duas idades, dois corpos, de modo que as faces do poliedro se trespassam, umas em outras se refletem: sou ensamblada, incrustada em mim.

Toda minha vida, pois, est aqui, neste instante, instante? Sob dplice ptica vejo o mundo e falo com a boca dupla. Todas as casas com as janelas fechadas.

Bicicletas nos passeios, ainda midas da rpida chuva de maio. Ouvimos os nossos passos vagarosos e contemplamos o reflexo das lmpadas no calamento. O brao de Roos pesa docemente e com indefinvel esquivana sobre o meu. Sou um recinto no qual penetrou e de onde logo ir embora um pssaro fugido. Sob as pedras molhadas ou em algum quarteiro remoto vozes de homens cantando, risos, rufar de tambores, tropel.

Extremamente curioso, tente a especular sobre o incompreensvel, viaja sempre que pode vende, inclusive, produtos hindus e 5 1 2. Recebe, atravs do tempo e das distncias, diludos, adulterados, talvez ungidos de magia, resduos da matemtica egpcia, da astronomia babilnica e dos ensinamentos pitagricos.

Um servo, Loreius, sempre perseguido por sonhos enigmticos, alguns verdadeiros, outros talvez invetados para atrair a curiosidade fcil do amo, afigura-se, a Publius Ubonius, o interlocutor ideal. No rato, o comerciante esquece a esposa, os filhos e os negcios, para entreter discusses com Loreius.

Acaba, em consequncia de tantas e cada vez mais exaltadas conversas, por prometer ao servo liberdade, se este descobrir uma frase significativa e que possa, indiferentemente, ser lida da esquerda para a fireita e ao revs. No s isto: sotopondo as palavras de que se componha, possa ser lida tambm na vertical, iniciese a leitura do ngulo esquerdo superior ou do inferior direito.

Em qualquer sentido, afinal, que se empreender a leitura da frase, dever esta permanecer identical a si mesma. Quer Publius Ubonius, incapaz, no obstante suas perquiries, de concentrar-se no problema, representar a mobilidade do mundo e a imutabilidade do divino.

A imutabilidade do dibino encontraria sua correspondncia na imutabilidade da frase, com o seu princpio refletido no seu fim; enquanto a mobilidade do mundo teria sua replica nas variadas direes seguidas para a leitura da mesma expresso e tambm na possibilidade de criar, com as letras constants dessa frase imaginada, que Ubonius no conhece mas deve existir, outras palavras.

Os sonhos de Loreius multiplicavam-se; suas viglias so desesperadas. Antes de tudo, decide a extenso da sentena, que dever ter cinco palavras. Ultrapassar este limite, parece-lhe uma ostentao; uma fraquesa contentar-se com menos.

Alm do mais, o nmero abriga significados cabalsticos, para ele importantes, havendo, dentre outras, a ilao entre o cinco e o pentgono estrelado, emblema universal da vida. Sendo a frase composta de cinco termos, cada um destes, forosamente, teria cinco letras, de modo a possibilitarem, agrupados uns sobre os outros se lidos no sentido horizontal ou lado a lado se no vertical , as permutes exigidas pela obstinao de Ubonius.

Prepararam os dois homens, como se ver, e sem o saberem, o plano desde romance onde ressurgem e do qual so colaboradores. Contempla-os, com gratido, o narrador, por sobre os dois mil anos que a eles o unem. Os outros passageiros, na cabina, lem jornais, Ng Dinh Diem na Casa Branca, jardim zoolgico holands vai adquirir mil crocodilos, foto de Churchill, olho os montes de feno espalhados na planura verde, iluminada pelo sol ainda tbio de maio. Sob o signo de Roos, cujo smbolo parece ser o crculo, a volta, o progresso ilusrio, posso, ao invs de seguir rumo a Lausanne, estar retornando fria plataforma descoberta de gare de Lyon.

Se Roos e tu, Abel, de mos dadas, girsseis entre as gavelas de feno! Teu corao talvez se aquietasse e talvez entrevisses o que procuras em vo. Engulo com uma bebida podre a sua ausncia, a certeza de que vai no mesmo trem, fazendo, afastada de mim, no sei em que vago, esta viagem sem significado aparente.

Levantar-me-ei, irei ao seu encontro afinal. Dir, com o ar de censura e sem rigor: Voc prometeu no procurar-me. Perguntarei: Que aconteceu?

Porque eu no devia vir?. Meu marido, inclinando-se, olha-me no fundo das pupilas, com ateno, volta brutalmente meu rosto para a lmpada.

Exclama, trmulo: Voc tem quatro olhos, uns por dentro dos outros. Que olhos so esses? Como no os vi nunca?. Cerro as minhas plpebras, as plpebras infantis: contemplo-o apenas com os olhos adultos.

Apaga a lmpada que pende do estuque spero e deita-se. O mar percute nos lajedos. No lhe falarei agora, nunca dos meus dois nascimentos, dos meus dois corpos. Vem, Abel. Penetra-me e acrescenta-me. Obsedam-me as esponjas, seres de vida estreita, sempre a trocarem de sexo, ora expelindo vulos, ora fecundando-os, obsedam-me as esponjas, h quinhetos milhes de anos j existiam, hesitavam entre um sexo e outro, tudo o que faziam e fazem, assim continuam, essa conformao imota me apavora.



0コメント

  • 1000 / 1000